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Por conta da pandemia da Covid-19 e a necessidade do cancelamento de eventos científicos presenciais no Brasil e o no mundo, o Grupo Arthromint decidiu se reinventar. O Encontro - que desde a sua primeira edição, em 1997, acontece ininterruptamente reunindo as mais diversas áreas de pesquisa de artrópodes (em sua maioria insetos e aracnídeos) e helmintos (parasitas ou de vida livre) – aderiu ao “novo normal” para realizar a sua edição 2020.

Com o adiamento do nosso XXIV Encontro Anual para 2021, surgiu a ideia de aproveitarmos o momento de isolamento social e termos uma edição mais curta e totalmente online” - observou a professora Andrea Fogaça (USP), que ao lado do professor Itabajara Vaz-Jr (UFRGS), coordenou a organização do Encontro Virtual do Grupo Arthromint, realizado no dia 29 de maio.

 

Da concepção da ideia até a organização do evento virtual foram apenas 42 dias. Na programação, duas palestras internacionais, na parte da manhã, e as tradicionais mesas aleatórias de apresentação de trabalhos, no período da tarde. Por ser a primeira vez no formato online, a Comissão Organizadora optou por realizar o evento em um único dia. 

Na abertura do evento, que foi transmitido ao vivo pelo canal do youtube do Arthromint, o professor Itabajara Vaz-Jr comentou a decisão de fazer o Encontro Virtual do Grupo em época de pandemia: “Organizamos um micro-Arthromint, com a programação condensada em um dia, para mostrar que a Universidade continua ativa, principalmente a pós-graduação. A intenção foi de marcar que, mesmo em uma situação adversa, estamos presentes online, fazendo ciência”. 

 

Evento online bateu recorde de participantes 

Apesar de ter precisado abdicar do cenário paradisíaco da Ilha Grande-RJ e do calor humano das conexões interpessoais, típicas de um evento presencial, o Encontro Virtual teve o aspecto bastante positivo de democratizar o acesso ao evento de pesquisadores que moram distantes do Estado do Rio de Janeiro. Na versão online, o evento bateu recorde de inscrições consolidadas, totalizando mais de 180.  Durante a transmissão ao vivo das palestras, chegou a ter um pico de 210 participantes simultâneos, que tiveram a possibilidade de interagir através do chat e fazer perguntas aos palestrantes.

A programação do Encontro Virtual contou com palestras de dois pesquisadores associados ao National Institutes of Heath/ National Institutes of Allergy and Infectious Diseases (NIH, NIAID).  O Dr. Jesus Valenzuela, do Laboratory of Malaria & Vector Research (MD, EUA), ministrou a palestra intitulada “Immune responses to vector bites: from basic research to clinical studies”. Em sua apresentação, focou nos estudos sobre componentes importantes da saliva de flebotomíneos para o estabelecimento da infecção por Leishmania no hospedeiro vertebrado. 

A Leishmania é um gênero de protozoários transmitidos por flebotomíneos que causam um grupo de doenças parasitárias denominadas Leishmanioses. Trabalhos pioneiros demonstraram que: (i) a saliva de flebotomíneos é essencial para o estabelecimento da infecção do hospedeiro vertebrado por leishmanias e; (ii) o desafio prévio com a saliva desses insetos diminui a severidade da doença. Os trabalhos do Dr. Jesus visam identificar os componentes da saliva de flebotomíneos envolvidos com essas propriedades e têm uma grande relevância para a comunidade científica,  tendo em vista que Leishmaniose é uma doença negligenciada, que carece de um arsenal terapêutico,  com menos efeitos colaterais.

A segunda palestra do Encontro Virtual foi a do pesquisador brasileiro Dr. Lucas Tirloni, que trabalha hoje no Rocky Mountain Laboratories, (NIH, NIAID) em Montana, nos EUA. Antes de iniciar a sua palestra, intitulada “Tick saliva: role in blood feeding and pathogen transmission”, fez questão de comentar que estava bastante feliz, já que essa era a sua primeira vez em um Encontro do Grupo Arthromint, pois, diversos fatores impediram sua participação, quando estudante, no evento.

O Dr. Lucas iniciou sua apresentação ressaltando que, nos EUA, os carrapatos têm uma relevância para saúde humana ainda maior que no Brasil, pois atuam como vetores de diversos patógenos para o homem, tais como Borrelia burgdorferi (agente etióligico da doença de Lyme), Anaplasma phagocytophilum (agente etiológico da anaplasmaose granulocícita humana, Babesia microti, (babesiose), além de Rickettsia rickettsii (agente etiológico da febre maculosa das Montanhas Rochosas) - sendo essa última a principal zoonose transmitida por carrapatos no Brasil. Os carrapatos são artrópodes ectoparasitas que se alimentam obrigatoriamente do sangue de animais vertebrados e, assim, são responsáveis pela transmissão de diversos patógenos, tanto para o homem quanto para outros animais.

Através de análises proteômicas e transcriptômicas de diferentes espécies de carrapatos, associados a estudos funcionais, o Dr. Lucas vem elucidando o papel de componentes da saliva de carrapatos sobre o sistema imune do hospedeiro vertebrado e sobre a alimentação sanguínea. Esses estudos podem levar ao desenvolvimento de vacinas e evitar doenças transmitidas por carrapatos.

 

Após as palestras, as tradicionais mesas aleatórias

Evento teve 24 mesas virtuais de apresentação de trabalhosEvento teve 24 mesas virtuais de apresentação de trabalhosAs tradicionais mesas aleatórias de apresentação de trabalhos do Grupo Arthromint aconteceram na parte da tarde. No total, 24 mesas aleatórias ocorreram de forma concomitante, cada uma delas composta por 1 ou 2 pesquisadores ou docentes, 1 pós-doc e 4 a 6 estudantes de Graduação (Iniciação Científica) ou Pós-graduação (Mestrado ou Doutorado)

Como é de praxe nos eventos Arthromint, os pesquisadores e docentes tiveram o papel de moderadores, estimulando a discussão entre os membros da mesa enquanto um deles apresentava os dados de seu projeto de pesquisa. Neste ano, o moderador teve ainda que escolher uma plataforma digital (Google Meets, WebConf, Zoom etc) e convidar os membros da sua mesa para a reunião virtual. 

“Os relatos da experiência recebidos de alguns participantes, até o momento, foram todos muito positivos, o que demonstra que novas reuniões virtuais poderão ocorrer, em caso de necessidade” - observou a professora Andrea Fogaça (USP). Todos que participaram do Encontro Virtual 2020 do Grupo Arthromint receberam certificados.

Assim como em edições anteriores presenciais, o evento contou com apoio do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Entomologia Molecular (INCT-EM) para sua realização. Neste ano atípico, assolado pela pandemia da Covid-19, o Grupo Arthromint decidiu fazer um evento “solidário”, com inscrições gratuitas, sugerindo que os participantes fizessem doações para grupos de pesquisa da UFRGS, USP e UFRJ, que estão na linha de frente do combate à Covid-19.

O grupo de trabalho que organizou o Encontro Virtual 2020 do Grupo Arthromint é formado pelos pesquisadores: Andrea Fogaça (USP), Itabajara Vaz-Jr (UFRGS), Anderson Sá-Nunes (USP), Carlos Winter (USP), Jayme de Souza-Neto (UNESP), Ademir Martins (FIOCRUZ) e Emerson de Avelar (secretário).

Por Lucia Beatriz Torres (jornalista de ciência), com a colaboração de Andrea Fogaça e revisão de Itabajara Vaz-Jr

 

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