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Até o dia 21/11 (terça-feira), estão abertas as inscrições para o Concurso de Professor Doutor, no Departamento de Bioquímica (DBQ) do Instituto de Química (IQ) da Universidade de São Paulo (USP).  A vaga é de referência MS-3, em Regime de Dedicação Integral à Docência e à Pesquisa (RDIDP), com salário de R$ 14.761,02 , na área de conhecimento de Bioquímica e Biologia Molecular.

O Departamento de Bioquímica da USP desenvolve pesquisa de ponta fundamental e aplicada em bioquímica e biologia molecular, e tem como um de seus objetivos proporcionar uma educação equivalente às das melhores universidades do mundo. Espera-se que o candidato selecionado desenvolva um programa de pesquisa vibrante e financiado por agências de fomento, que seja ativo no ensino e orientação de alunos, e que contribua para promover um clima inclusivo no departamento, no instituto e no campus. Mais informações sobre o departamento podem ser encontradas em: https://www.iq.usp.br/portaliqusp/?q=pt-br/bioquimica/apresentacao

Acesse o edital: https://uspdigital.usp.br/gr/admissao

Dúvidas sobre este concurso podem ser enviadas para bioquimica@iq.usp.br

Prazo de inscrição: 21 de novembro, 2023, às 17h, hora de Brasília.

 

 

O Host-Pathogen Interaction Meeting 2023 (HPIM) é um evento multidisciplinar dedicado à interação patógeno-hospedeiro que busca proporcionar expressivo intercâmbio científico à comunidade acadêmica nas áreas de parasitos, fungos, bactérias e vírus através de eixos temáticos abrangentes, como ômicas, biologia dos patógenos, vesículas extracelulares e relação com insetos vetores. Dessa forma o encontro visa aprofundar a compreensão das complexas dinâmicas entre os organismos vivos e os agentes infecciosos que os afetam.  Acesse o site do evento. 

O encontro acontecerá entre os dias 23 e 26 de outubro de 2023, no auditório de Biomanguinhos, na Fiocruz/RJ e contará com 12 minicursos remotos e um evento presencial, com palestras, apresentação de pôsters e premiação de trabalhos. O prazo para inscrições e envio dos resumos vai até o dia 15 de setembro de 2023. Acesse para inscrever o seu resumo

 

 Evento em formato híbrido e gratuito

O HPIM 2023 adotará um formato híbrido, permitindo tanto a participação presencial na Fiocruz/RJ, como remota mediante transmissão online. Um dos aspectos distintivos do HPIM é o seu compromisso em promover a participação inclusiva, portanto, o evento será totalmente gratuito, buscando atrair e engajar estudantes de graduação e pós-graduação, pesquisadores e profissionais de diversas origens, áreas e níveis de experiência.

O evento tem aglutinado alunos e pesquisadores do Brasil inteiro e de outros países de América Latina como Argentina e Chile. Na edição deste ano a expectaiva é receber mais de 500 congressistas presenciais e remotos, contando com uma programação científica ainda mais ampla, incluindo palestrantes de Estados Unidos, Áustria e Inglaterra, sempre visando ciência de qualidade com inclusão para todos. Acesse a programação do evento.

Minicursos 

Os minicursos são um dos destaques educacionais do evento, abordando temáticas variadas no âmbito da interação patógeno-hospedeiro. Os minicursos oferecidos acontecerão nos dias 19 e 20 de outubro e terão duração de 3 horas, no formato online. Os cursos podem ocorrer nos horários da manhã (das 9h às 12h) ou tarde (das 14h às 17h). As inscrições para os minicursos vão até o dia 15 de setembro 2023. Acesse para se inscrever nos minicursos.

As vagas são limitadas a 50 participantes por cada minicurso. O participante poderá selecionar, por ordem de sua preferência, até três minicursos. A possibilidade de homologação do segundo ou terceiro minicurso só será considerada caso os minicursos estejam programados em dias distintos e tenham vagas remanescentes. Os 50 (cinquenta) primeiros inscritos que submeterem trabalhos terão homologação automática nos dois primeiros minicursos  de escolha (que não ocorram de forma simultânea).

O encerramento das inscrições para cada minicurso dará mediante o preenchimento das vagas disponíveis, priorizando os participantes que terão resumos submetidos para apresentação e segundo a carta de intenção do minicurso respectivo sobre a área desejada.

 

 

 

  

 

 

 

A expectativa era grande para o primeiro Encontro presencial do Grupo Arthromint, pós-pandemia. Tanto para pesquisadores experientes - já familiarizados com a dinâmica inovadora do Encontro, como para jovens arthromíntic@s de primeira viagem. De 2020 a 2022, quatro edições virtuais mantiveram bravamente acesa a essência do evento, mas nada como vivenciar o Arthromint em seu habitat natural: a paradisíaca Ilha Grande/RJ.

Neste histórico reencontro do Grupo Arthromint, realizado entre os dias 27 e 30 de julho de 2023, mais de 150 pesquisadores de diferentes instituições do Brasil e do exterior, se reuniram para trocar experiências sobre uma causa em comum…. Compreender a natureza dos Artrópodes (Arthro)  e Helmintos (mint), a fim de desenvolver novas formas eficazes para o controle de doenças transmitidas por vetores. Doenças de grande importância epidemiológica, como a dengue, zika, chikungunya e leishmaniose, porém ainda historicamente negligenciadas, no País e no mundo.

Um evento pé na areia e no gramado. Realizado ao ar livre, no ambiente tranquilo da enseada de uma ilha. Em um cenário livre do trânsito e da poluição das grandes cidades, onde o meio de transporte é o barco e o barulho mais constante é o canto dos pássaros. Isento de sessões de pôsteres e da formalidade das apresentações orais, o Arthromint é completamente diferente das reuniões científicas clássicas, pois o importante no evento não é o aluno mostrar seus resultados, mas sim compartilhar suas dificuldades para que, em grupo, sejam pensadas novas soluções, a partir de diferentes pontos de vista.

 

  

Um evento idealizado com uma nobre missão

 O Arthromint foi um evento criado, em 1997, com o objetivo primordial de aproximar alunos de Iniciação Científica e Pós-Graduação de pesquisadores experientes. Através de uma metodologia pioneira, o evento favorece a troca de conhecimento horizontal, de igual para igual, independente do nível de formação acadêmica, estimulando a colaboração entre os pares. 

Aproveitem esta oportunidade para interagir ao máximo com todos os presentes, colegas estudantes, professores, técnicos, convidados estrangeiros expondo-lhes suas ideias e dificuldades. Assim, vocês terão maiores chances de encontrar  soluções para seus problemas e alavancar seus projetos” - escreveu o Prof. Hatisaburo Masuda (UFRJ), um dos idealizadores do evento, em carta aberta direcionada aos participantes do Arthromint 2023.

Lembrem que o Arthromint foi idealizado para ajudar vocês, jovens cientistas, proporcionando um ambiente rico para troca de ideias (…) ! Vençam a timidez e conversem ciência, na praia, no café da manhã, nas mesas aleatórias, no barco, no almoço, no jantar, nas festa etc enfim, quando a oportunidade surgir.” - completou Masuda, que por recomendações médicas não pode estar presente no evento. 

 

 

Dinâmica inovadora das mesas aleatórias 

Ao longo de mais de duas décadas, a metodologia batizada com o nome inusitado de “mesas aleatórias” foi consolidada e ganhou reconhecimento de grupos, no Brasil e no exterior, que já espelham a experiência para organizar eventos similares em suas respectivas áreas de pesquisa.

No Arthromint as mesas aleatórias reunem pequenos grupos (de 6 a 7 pessoas, no máximo), para não inibir a fala do estudante diante de uma plateia muito grande. Os grupos são coordenados por um pesquisador experiente e formados por participantes de níveis acadêmicos heterogêneos. Todos são livres para opinar. Nas mesas aleatórias só há uma regra: ninguém pode participar da mesma mesa de alguém do seu laboratório. 

Segundo os organizadores, para comportar todos os participantes desta edição foram necessárias 22 mesas aleatórias, em cada sessão. Com auxílio da inteligência artificial sob o olhar atento do secretário do evento, Emerson de Avelar, as mesas ficaram as mais aleatórias possíveis. Números no crachá indicavam a mesa para qual o aluno deveria se dirigir. À beira do mar, embaixo da amendoeira, tenda ou ombrelone, no gramado, no deck ou restaurante… Diante das múltiplas possibilidades oferecidas, em um dia de sol ou de chuva, em comum acordo, os integrantes decidiam onde queriam se reunir para conversar sobre seus trabalhos.

 

 

Um estímulo para aperfeiçoar o inglês

Ao todo foram 03 sessões de mesas aleatórias de, em média, 03 horas cada. Ou seja, durante o evento, os estudantes tiveram a oportunidade de apresentar o seu trabalho 03 vezes e receber feedbacks dos colegas e dos pesquisadores sêniores. Se pela aleatoriedade o aluno tivesse caído em uma mesa com participantes estrangeiros, deveria apresentar o seu trabalho em inglês. Caso não dominasse o idioma, o estudante recebia ajuda do grupo para traduzir o seu trabalho e ter oportunidade de receber os feedbacks. Mas é interessante lembrar que nem todo evento científico tem o mesmo espírito de cooperação do Arthromint…

As mesas aleatórias são um estímulo para os estudantes entenderem que a língua estrangeira faz parte da formação profissional deles, já que o inglês é a língua mais utilizada na área científica para os pesquisadores trocarem conhecimento. Na linguagem acadêmica o inglês facilita bastante. Os estudantes não podem abrir mão disso” - ressaltou o Prof. Emerson Guedes Pontes (UFRRJ), que coordenou uma mesa com a participação do Dr. Petr Volf, pesquisador consagrado do Departamento de Parasitologia da Charles University, sediada em Praga, República Checa.

 “É interessante ver como esse evento é organizado. Mesas aleatórias com uma combinação de pesquisadores, pós-docs e alunos que estão começando. Na mesa pude falar sobre a minha experiência de 30 anos trabalhando com vetores, discutir com alunos metodologia e sugerir alguns experimentos para melhorar o trabalho deles” - observou Petr Volf, que ficou muito impressionado como os jovens alunos estão entusiasmados com as pesquisas que estão desenvolvendo. “Acho o estilo desse evento muito frutificante para as gerações mais jovens”- completou.

 

 

Para Suelen Bastos Pereira, aluna de mestrado do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), o Arthromint é um encontro diferenciado pois permite que os participantes tenham um pouco mais de liberdade e proximidade com pesquisadores que escrevem artigos de referência na área. 

A gente consegue ter uma linha de diálogo construtiva. Em cada mesa, tive a oportunidade de absorver as opiniões, tanto dos alunos como dos pesquisadores experientes, que enriqueceram de forma absurda o meu trabalho e, principalmente, extrapolaram ideais que eu não havia pensado antes. Até mesmo em relação às perspectivas dos próximos passos do projeto”- pontuou a mestranda da Fiocruz/RJ, após a participação em sua terceira mesa aleatória.

 

Terapia de protocolo de grupo 

Terapia de protocolo de grupo. Foi assim que o Prof. Rodrigo Soares do Centro de Pesquisas René Rachou (Fiocruz/MG) descreveu a dinâmica inovadora das mesas aleatórias, logo na abertura do evento.  Como em um processo terapêutico, as mesas aleatórias são momentos importantes para os alunos poderem se expressar à vontade, compartilhar suas dificuldades. E também fazerem perguntas e reflexões sobre sua pesquisa, que não tiveram tempo e nem oportunidade de fazer, enquanto imersos na rotina de trabalho de seus laboratórios de origem. 

Acredito que o Arthromint realmente funcione como terapia de grupo para os alunos, deixando os estudantes mais tranquilos e fazendo eles se entenderem no processo da pesquisa” - refletiu Marcus Vinicius Lacerda, médico infectologista, especialista em saúde pública do Instituto Leônidas &  Maria Deane (Fiocruz/ AM), chamando a atenção para mais um ponto positivo do evento: a manutenção da saúde mental dos estudantes, frente às adversidades de sua pesquisa.

 

  

Compartilhando dificuldades e soluções

Ao compartilhar suas dificuldades na “terapia de grupo” realizada durante mesas aleatórias, os alunos percebem que, às vezes, os seus problemas podem ser semelhantes aos de pesquisadores mais experientes. E que a solução pode ser útil a ambos, o que estimula a profícua colaboraçāo científica entre as partes.

Lidiane Medeiros da Costa, aluna de doutorado da UFMG, trabalha com avaliação fisiológica de barbeiros. Uma das formas de estudar o seu comportamento alimentar é analisar os sinais elétricos de uma bomba que fica na cabeça do inseto. Para desenvolver sua pesquisa, a aluna contou que fica “refém” de um programa que só funciona em Windows 95, pois ele é dependente do sistema operacional DOS, que não é mais disponibilizado nos sistemas atuais de computadores. 

 “Daí vem a necessidade de desenvolvermos um novo software que funcione nos programas atuais, pra fugirmos da dependência de um equipamento que está fora de linha, que não tem mais peças e nem em suporte do desenvolvedor” - observou Lidiane, informando que, em parceria com um aluno de IC, está investindo esforços para desenvolver um novo software para rodar o programa, a fim de não correr o risco de precisar parar sua pesquisa, caso dê pane no computador antigo.

O pesquisador Pedro Lagerblad de Oliveira (UFRJ), coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Entomologia Molecular (INCT-EM), sinalizou que tem um problema parecido no seu laboratório e se interessou em usar, futuramente, o software que será desenvolvido no grupo de pesquisa da doutoranda.

 

 

Do Arthromint para o mundo 

Erich Loza Telleria participou do Arthromint enquanto aluno de IC, mestrado, doutorado e pós-doc. Nesta edição teve uma experiência diferente…Foi para o evento como palestrante com a missão de inspirar jovens pesquisadores à carreira científica. Especialista no silenciamento gênico de flebotomíneos por RNAi, Erich trabalha há 5 anos na Charles University, na República Checa, no laboratório do Dr. Petr Volt. Em uma noite estrelada, dividiu com Dr. Volt a responsabilidade de encantar os alunos nas conferências de abertura do evento (27/07).

O convite foi uma grata surpresa! O Arthromint para mim foi muito enriquecedor, possibilitou criar o hábito de compartilhar ideias e assim poder expandir colaborações. Através dessa experiência pude alavancar minha carreira” - pontuou Erich. Durante o período do seu doutorado em que teve a oportunidade de estudar na Liverpool School of Tropical Medicine, na Inglaterra, Erich aprendeu a técnica de silenciamento gênico por RNAi e, algum tempo depois, foi convidado a implementar a ferramenta no laboratório do Dr. Volt, onde estabeleceu o seu próprio grupo de pesquisa em imunologia de flebotomíneos. “Não tenham medo de propor ideias!” - foi o recado que o pesquisador deixou para as gerações mais jovens de atromíntic@s.

Dando continuidade ao programa de conferências, na segunda noite do evento (28/07), Marcus Vinicius Lacerda (Fiocruz- AM), coordenador de uma rede de pesquisa referência em doenças tropicais, usou o storytelling e o bom humor para traçar um panorama histórico mundial da descoberta da Malária e tentativas de controle do vetor (muitas vezes frustadas) e tratamentos. 

 

 

Da descoberta da Malária à cloroquina

Da origem do nome da doença - Malária vem do italiano “mal aire” que significa “mau ar” por que acreditava-se que o mau ar que vinha dos pântanos era o causador da doença. Só depois se descobriu que o que vinha dos pântanos eram os mosquitos vetores - à criação do gim tônica, primeira profilaxia a base de quinino para evitar que soldados do exército inglês contraíssem malária durante a construção do Panamá. Passando pela tragédia na construção da ferrovia Madeira-Mamoré, onde 90% dos trabalhadores se infectaram, o fracasso do Programa Mundial da Organização Mundial de Saúde (OMS) de erradicação da malária pelo DDT e a ineficácia do método Pinotti, de distribuição de sal de cozinha com cloroquina no norte do Brasil, na década de 50. 

Por falar em cloroquina… Marcus Vinícius foi o médico que esteve à frente de um estudo pioneiro publicado, em 2020, no Journal of the American Medical Association (Jama) sobre o uso de cloroquina em pacientes com Covid-19. Tornou-se alvo de ameaças de morte e ofensas pessoais por conta do estudo que demonstrou que o medicamento não era eficaz e podia apresentar riscos aos pacientes infectados pelo novo coronavírus.

A visita do pesquisador ao Arthromint aconteceu alguns dias depois dele receber a Comenda da Ordem Nacional do Mérito Científico, em Brasília. Em 2021, a honraria concedida a ele havia sido revogada pelo presidente Jair Bolsonaro pois os resultados dos seus estudos eram contrários à políticas públicas do governo de combate à pandemia. À época, a pesquisa  publicada no Jama foi fundamental para que a cloroquina parasse de ser prescrita para Covid-19, nos Estados Unidos.

Sobre o caso, ao final de sua palestra Marcus Vinicius Lacerda comentou:  “Aquilo que não nos mata, nos seleciona e nos torna mais fortes! Foi o que aprendi com os entomologistas”.

 

Das Conferências para as Festas, ou vice-versa

De igual importância que as mesas aleatórias, mesas temáticas (nesta edição ano foram 10) e as conferências, as festas sempre tiveram um papel fundamental para unir docentes, discentes e pesquisadores no Arthromint. Que o diga Carlos Logullo (UFRJ), arthromíntico de longa data que nesta edição foi o responsável por fazer o vai e vem, pela areia, da potente caixa de som que embalou as festas das duas primeiras noites do evento. 

As festas são ótimas pois integram todo mundo. No início a gente fica com um pouco de vergonha, aquele é tal pesquisador, tal pesquisadora, eu sou IC. Mas depois que temos o primeiro contato na festa, a gente perde a vergonha, acaba falando um pouco mais, todo mundo fica mais relaxado” - observou Gabriela Moreschi de Almeida, aluna de Iniciação Científica do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) e arthromíntica de primeira viagem.

Quem acompanhou sua animação desde o primeiro dia de festa do Arthromint, não imaginava que moça loira, alta, com sotaque “gringo” - que dançava todos os ritmos sem se cansar - havia sido a coordenadora do consórcio internacional de cientistas que, recentemente, havia feito uma importante descoberta:  a decodificação do genoma completo de duas espécies de flebotomíneos. 

Quem estava por dentro do feito, acreditava que o motivo de tamanha alegria podia ser comemoração, pois também estavam presentes no Arthromint alguns pesquisadores brasileiros que participaram do estudo, publicado em meados do mês de abril, na renomada ‘Plos Neglected Tropical Diseases’

Ao caracterizar genes associados a comportamentos que interferem na capacidade do flebotomíneo transmitir a infecção, a decodificação do genoma permite o desenvolvimento de novas formas controle de doenças, como a Leishmaniose. Mantendo o suspense sobre os bastidores do estudo que reuniu esforços de quase uma centena de cientistas de todo o mundo, a palestra da Dra. Mary Ann McDowell, pesquisadora da Notre Dame University (EUA), aconteceu somente na noite de encerramento do evento (29/07). 

 

 

Festas com espírito Arthromint 

No retorno ao Encontro presencial em Ilha Grande, o Arthromint foi organizado por pesquisadores de Minas gerais, capitaneados pelo Prof. Rodrigo Soares (Fiocruz/MG) e privilegiou, em seu ciclo de palestras, a temática dos flebotomíneos (também conhecidos como sandfly ou mosquito-palha). Para alegria de todos manteve, firme e forte, uma tradição do evento: a última festa ser realizada na pousada dos alunos e… os pesquisadores terem que enfrentar, a trilha de volta para casa, no escuro. 

Para quem nunca foi ao evento, importante ter em mente que cada pousada fica localizada na ponta de uma enseada. Sendo o mar e a trilha os únicos acessos disponíveis para se chegar à Maria Bonita ( pousada dos alunos) e Recanto dos Pássaros (pousada dos pesquisadores).

Um barco até foi disponibilizado pela organização para fazer o retorno dos pesquisadores, mas assim como no conto infantil da Cinderela, a embarcação saía cedo da festa. E quem ousaria ir embora e perder a performance do Freddie Mercury, aperfeiçoada por Anderson Sá Nunes (USP) durante os enclausurados anos de pandemia, ou deixar de assistir ao concurso Garoto e Garota Arthromint…? Concurso esse, que assim como o repertório musical das festas, precisou ser atualizado pelas gerações mais jovens presentes no evento e passou a se chamar “Pessoa Arthromint”. 

 

 

Nota: Como curiosa repórter de ciência, resolvi viver na pele o Arthromint (sem o clássico banho de mar noturno) e arrisquei ir embora de trilha. Depois de uma animada festa, confesso que não foi fácil percorrer o caminho de volta na floresta escura mas, com a ajuda das colegas de quarto de Minas Gerais, sobrevivi para escrever esta reportagem!

 

Arthromint: palco de encontros e reencontros

Palco do encontro entre pesquisadores interessados em compreender a biologia dos insetos vetores de arboviroses, o Arthromint foi terreno fértil para a criação, em 2009, da rede de pesquisa do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Entomologia Molecular (INCT-EM). Desde então, o evento é sede das reuniões anuais do INCT-EM e ambiente propício à discussão de temas atuais e de interesse da comunidade científica. 

Este ano o desenvolvimento de projetos para uso do banco de células de vetores, disponibilizado pela “Tick Cell Biobanck” no Brasil, esteve na berlinda do evento e suscitou a polêmica reflexão: o acesso ao biobanco deve ser gratuito ou não? Eis a questão. A discussão foi conduzida em Ilha Grande pelo coordenador do INCT-EM, Prof. Pedro Lagerblad e teve a participação remota do Dr. Flavio Alves Lara (IOC), que é responsável pela manutenção do banco de células, na Fiocruz/ RJ. Neste histórico re-encontro presencial do Grupo Arthromint pós-pandemia, o debate foi único o momento híbrido (virtual +presencial) do evento. 

Após quatro edições virtuais com o espírito Arthromint enclausurado dentro dos computadores, foi bonito de ver in loco a reunião entre as diferentes gerações que pesquisam a temática dos artrópodes e helmintos. O olhar saudoso dos que participaram dos primeiros Arthromints, o brilho nos olhos, de quem apenas havia escutado falar do evento, e foi até Ilha Grande conferir de perto que todos os relatos não eram fake-news. Marcante também foi a alegria do reencontro presencial de dois amigos pesquisadores do tema, originários do Sudão, país distante ao norte da África.

 

 

Não foi difícil para Bashir Ali - que há três anos está no Brasil fazendo doutorado no Instituto Ageu Magalhães (Fiocruz/ PE), sob a orientação da Profa. Constância Ayres, - convencer seu amigo, Amman Ahmed, a vir para o Arthromint.  Ahmed que estava em um evento em São Paulo, e se quer fala uma palavra em português, resolveu esticar sua permanência no País para conhecer a dinâmica inovadora do Encontro. E pelo seu depoimento, parece que não se arrependeu…

O Arthromint é totalmente diferente de outras conferências que já participei. Eu nunca estive em experiência similar antes” - observou o doutorando da Universidade de Khartoum, no Sudão, que além de elogiar a metodologia, também ficou impressionado com a logística do evento: “Sair do meio urbano e ver somente natureza aqui, é muito espetacular. Toda hora você está trocando o cenário. De um lado você come e dorme (Pousada Maria Bonita) e no outro, discute o seu trabalho (Pousada Recanto dos Pássaros)”.

A entrevista, de repente, é interrompida pelo barulho da buzina de um barco.“Estão me chamando. Durante o dia pego o barco pelo menos 03 vezes para ir de um lado a outro do evento. É bem divertido” - contou com entusiasmo Amman Ahmed. Lembram quando na carta de boas-vindas o Prof. Masuda recomendou discutir ciência em todo lugar, inclusive até no barco…no Arthromint foram múltiplas essas oportunidades.

 

Lembranças para além do cv lattes

A buzina toca novamente e é a triste hora de ir embora. A mesma escuna que trouxe os participantes de Angra dos Reis até a Ilha Grande, em uma bela quinta-feira de sol e, durante o evento fez o transporte dos alunos entre as enseadas, no domingo à tarde, leva embora. Na bagagem, lembranças para ficar na memória. Entusiamo para colocar em prática nos pesquisas. E a certeza de que o Arthromint vai muito além do que o nome de um evento científico estampado no currículo lattes.

 “O Arthromint é fixe. É porreta!”. No português de Portugal a expressão se refere a algo muito positivo, legal. Se o pesquisador português Bruno Gomes (Fiocruz/RJ) já achou esta edição muito porreta, imagina o que não vai achar da próxima, em que o evento irá completar 25 anos. Em 2024, o Arthromint irá fazer bodas de prata e muita comemoração está por vir...

 

 

Acesse a playlist completa dos vídeos do Arthromint 2023 no canal do youtube do INCT-EM

 

Reportagem e short vídeos:  Lúcia Beatriz Torres, jornalista de Ciência do INCT-EM. 

 

 

A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) abriu concurso para Professor Adjunto na área de Parasitologia no Departamento de Parasitologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB). Ao todo são 2 (duas) vagas para Professor Adjunto A, nível 1, sob o  regime de trabalho de 40 (quarenta) horas semanais, em tempo integral, com dedicação exclusiva. Para concorrer à vaga é necessário que o candidato tenha Doutorado na área de Parasitologia ou nas áreas de Ciências Biológicas, Ciências Agrárias, Ciências da Saúde ou em áreas afins. 

O vencimento corresponde a R$ 10.481,64 ( já inclusos neste valor a retribuição por titulação de doutorado). O concurso consistirá em Prova Escrita com caráter eliminatório (fase 1) e julgamento de Títulos e apresentação de Seminário (fase 2).

 

Perfil desejado do(a) candidato(a)

Professor e pesquisador com produção científica na área de Parasitologia (entomologia, protozoologia, helmintologia e epidemiologia médica e veterinária) com perfil independente e capacidade de implantar e liderar um grupo de pesquisa e atuar na graduação e pós-graduação do Departamento de Parasitologia.

 

Inscrições

As inscrições para o concurso público vão de 28/08/2023 até 27/09/2023 às 23:59 h.

O valor da inscrição é R$ 215,99 (duzentos e quinze reais e noventa e nove centavos) e deverá ser paga no Banco do Brasil S/A, por meio de Guia de Recolhimento da União - GRU, emitida através do site: https://sistemas.ufmg.br/sisarc/emissaogru/gerir/geriremissaogru.seam?codigo=neGAFreIM

Acesse aqui o Edital n.1951/2023. 

Para maiores informações: dpar@icb.ufmg.br / concursos@icb.ufmg.br

Site para baixar o Edital e temas da prova escrita: https://www.icb.ufmg.br/institucional/legislacao-editais/publico-interno-2/concursos-inscricoes-on-line-adjunto-a/edital-1951-2023-prof-adjunto-a-depto-de-parasitologia-area-de-conhecimento-parasitologia

 

 

 

 

 

 

 

 

Márcio Pavan, Rafaela Bruno, Fernando Genta, Yara Traub-Cseko e Rayane de Freitas ( IOC - Fiocruz). Foto: Ricardo Schmidt Márcio Pavan, Rafaela Bruno, Fernando Genta, Yara Traub-Cseko e Rayane de Freitas ( IOC - Fiocruz). Foto: Ricardo Schmidt

 

Um consórcio internacional de cientistas, com participação da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), decodificou o genoma completo de duas espécies de flebotomíneos, vetores de leishmanioses. Os insetos Lutzomyia longipalpis e Phlebotomus papatasi tiveram o DNA sequenciado pela primeira vez, com caracterização de genes associados a comportamentos importantes na transmissão das doenças. Os resultados foram publicados na revista científica ‘Plos Neglected Tropical Diseases’.

As leishmanioses são um grupo de doenças causadas por parasitos do gênero Leishmania, que são transmitidos para as pessoas pela picada dos flebotomíneos. Esses insetos são popularmente conhecidos como mosquito palha, asa-dura, tatuquiras ou birigui, entre outros nomes. A infecção pode provocar lesões de pele, mucosas (como boca e nariz) ou órgãos internos (como fígado e rins), o que pode ser fatal se não houver tratamento adequado. 

O Brasil é um dos países mais afetados pelas leishmanioses no mundo. Por ano, são registrados 21 mil casos de leishmaniose tegumentar (que atinge a pele ou as mucosas) e 3,5 mil casos de leishmaniose visceral (que atinge órgãos internos), segundo dados do Ministério da Saúde.

De acordo com os autores do estudo, o sequenciamento do genoma dos vetores abre portas para expandir pesquisas, incluindo a busca de novas estratégias de controle vetorial.

“Para ações de controle e vigilância, você precisa conhecer bem o seu alvo. O sequenciamento do genoma abre uma ‘avenida’ de investigações sobre a biologia dos flebotomíneos e fornece uma base de dados para buscar ferramentas específicas e eficazes contra esses vetores”, ressaltou o chefe do Laboratório de Bioquímica e Fisiologia de Insetos do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Fernando Genta.

“Durante muitos anos, o conhecimento sobre genética de insetos foi baseado em Drosofila melanogaster, a mosca da fruta. Depois, tivemos sequenciamentos de genoma completo de mosquitos, de barbeiro, mas ainda não havia para flebotomíneos, que são vetores de grande importância epidemiológica. Esse projeto mostra que há sequências conservadas, mas também diferenças importantes entre as espécies estudadas”, pontuou Rayane Teles de Freitas, doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Biologia Celular e Molecular do IOC.

O esforço para sequenciar os genomas dos insetos reuniu mais de 70 pesquisadores, de 13 países. O grupo teve participação de 15 cientistas do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), de seis dos laboratórios: de Biologia Molecular de Insetos; Biologia Molecular de Parasitos e Vetores; Bioquímica e Fisiologia de Insetos; Doenças Parasitárias; Interdisciplinar de Vigilância Entomológica em Diptera e Hemiptera; e Mosquitos Transmissores de Hematozoários. Na Fiocruz, participaram também pesquisadores do Instituto Gonçalo Moniz (Fiocruz-Bahia) e Instituto René Rachou (Fiocruz-Minas).

 

Genes mapeados

Da concepção à publicação dos resultados, o projeto levou mais de 15 anos para ser executado. Entre os desafios, os pesquisadores precisaram lidar com a diversidade dos flebotomíneos. Insetos do gênero Lutzomyia transmitem a infecção nas Américas, enquanto vetores do gênero Phlebotomus propagam a doença na Europa, Ásia e África. Ao todo, são dezenas de espécies com papel reconhecido na transmissão das leishmanioses.

Nesse cenário, os cientistas selecionaram uma espécie importante de cada gênero para a pesquisa. O inseto Lu. Longipalpis é encontrado nas Américas Central e do Sul, inclusive no Brasil, onde transmite a Leishmania infantum, que provoca leishmaniose visceral. A espécie Ph. papatasi está presente na Europa, Oriente Médio e Norte da África, transmitindo o parasito Leishmania major, que causa leishmaniose cutânea.

Analisando o genoma completo dos vetores, os pesquisadores caracterizaram genes associados a comportamentos que interferem na capacidade de transmitir a infecção e podem ser alvo em estratégias de controle vetorial. Como exemplo, os autores citam genes que regulam o ritmo circadiano e a resposta imune dos vetores.

“Os genes de ritmo regulam comportamentos dos vetores em resposta às variações diárias de luz e temperatura. Isso tem relação com a competência vetorial porque influencia, por exemplo, a busca de criadouros e os horários de picadas”, explicou a chefe do Laboratório de Biologia Molecular de Insetos, Rafaela Bruno. 

“A anotação desses genes forma um banco de dados que pode ser explorado em outras pesquisas”, completou o pesquisador do Laboratório de Mosquitos Transmissores de Hematozoários, Márcio Pavan.

“Quando são infectados por Leishmania, os flebotomíneos desenvolvem uma resposta imunológica, assim como os seres humanos. Conhecer os genes de imunidade do inseto é importante, por exemplo, para identificar alvos para bloquear a infecção no vetor”, afirmou a pesquisadora do Laboratório de Biologia Molecular de Parasitos e Vetores, Yara Traub-Cseko, citando projetos em curso no Laboratório que buscam desenvolver vacinas capazes de bloquear a transmissão de leishmanioses. 

Nos diferentes grupos de genes caracterizados, as análises revelaram semelhanças e diferenças entre as duas espécies de flebotomíneos estudadas. 

“Vimos que a maquinaria de enzimas que o inseto usa para digerir proteínas tem muitas moléculas conservadas nas duas espécies. Já na digestão de açúcar, existe mais variação. Lu. longipalpis têm um arsenal de enzimas para digestão de açúcares mais diversificado, o que pode ser associado com a exposição a maior diversidade de plantas nas Américas. Essa pode ter sido uma das forças evolutivas desse genoma”, avaliou Fernando. 

O estudo incluiu ainda análises de populações de cada vetor encontradas em diferentes localidades com o objetivo de mapear a variabilidade genética interna de cada espécie. Rafaela destacou a importância dessa investigação uma vez que diversos dados apontam para a caracterização de Lu. longipalpis como um complexo de espécies, reunindo vetores com aparência muito semelhante, mas que podem ser classificados como espécies distintas por causa de diferenças comportamentais e genéticas.

“Realizamos coletas em diferentes locais do Brasil onde aparentemente encontram-se espécies diferentes do complexo. A análise genética dessas populações mostrou diferenças importantes, que reforçam que Lu. longipalpis é um complexo de espécies”, disse a pesquisadora.

 

Sobre o sequenciamento

O genoma dos flebotomíneos (como o de outros insetos, animais e, inclusive, do ser humano) é formado por milhões de pequenas moléculas, chamadas de nucleotídeos, que são identificados pelas letras A, C, T e G. Quando dizemos que o genoma completo dos vetores foi sequenciado, isso significa que os cientistas descobriram a ordem das moléculas que formam o DNA dos insetos. 

Porém, isso é só o começo do trabalho. Os genes são trechos do DNA que orientam a produção de proteínas e outras moléculas que formam o organismo e regulam comportamentos. Se o DNA é um código, identificar os genes corresponde a decodificar a mensagem inscrita no genoma.

No estudo recém-publicado, os pesquisadores constataram que o DNA de Lu. longipalpisé composto por cerca de 150 milhões de pares de nucleotídeos, contendo mais de dez mil genes. No DNA de Ph. papatasi, foram detectados aproximadamente 350 milhões de pares de nucleotídeos e anotados mais de 11 mil genes. 

A grande diferença no tamanho dos genomas foi explicada pela presença de muitos trechos repetitivos no DNA do vetor do Velho Mundo. A presença desses segmentos, que não correspondem a genes, é associada com o padrão de evolução das espécies.

“O sequenciamento do genoma completo forma um banco de dados. Se um pesquisador resolve estudar uma coisa nova, que ninguém estudou antes, ele tem essa fonte para fazer comparações e identificar novos genes ou variações em sequências, para aprofundar o que não sabia”, salientou Yara.

 

Fonte: Comunicação / Instituto Oswaldo Cruz. Por Maíra Menezes com edição de Vinicius Ferreira. Publicado em 13/07/2023 - Atualizado em 18/07/2023

 

 

 

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